terça-feira, 11 de setembro de 2012

It’s time to say goodbye


- É difícil.
- É… mas quando tu chegou, tu sabia que ia ser assim.
- Eu sei... mas não deixa de ser difícil.
- Ninguém disse que ia ser fácil. Mas pensa nos momentos bons que a gente teve... os passeios pela Shop Street... as noites nos pubs... as tardes de domingo lendo um livro no Spanish Arch... lembra disso?
 Lembro, lembro, tudo foi demais.
- E os pub nights com o pessoal da escola? Os passeios? As festas? Os festivais?
- Hahaha sim... sempre me diverti muito.
- Então? Porque essa tristeza agora? Você e eu sabíamos que ia ser um amor de verão.
- Eu sei...
- Eu até tinha esperança que você ficasse mais...
- Mas tu sabe que eu tenho que voltar!
- ... Eu sei! E é o melhor a fazer no momento. Tu sabe disso e eu também.
- Isso é um adeus?
- Adeus? Não sei... prefiro um "até logo". Tu sabe que eu sempre estarei aqui pra ti.
Talvez eu volte um dia. Nem que seja só pra tomar um chá – porque o café daqui é muito ruim. Ou uma pint mesmo... why not?
- Exatamente, por que não?  Estarei aqui, sempre te esperando.
- Eu sei. Obrigada, Galway.
(Fim do diálogo piegas)

No início do ano eu criei esse blog com o intuito de contar um pouco da minha experiência, mas quis focar em coisas que podem ser úteis pra outras pessoas. Já que há tantos blogs sobre Dublin porque não um sobre Galway? Espero ter cumprido um pedacinho dessa missão e torço para que outras pessoas façam o mesmo.

Eu adoro Galway. De verdade.  E aposto que quem eu conheci aqui compartilha dessa ideia. Claro que pra mim também é ótimo e lindo porque eu tô aqui de passagem,  dando uma de phyna e só estudando. Porque pros moradores há váááárias coisinhas que precisam ser repensadas sim – vide questão do trânsito, lixo...  Mas de qualquer forma, isso não tira o brilho da cidade. Todo mundo ama esse lugar. E quando eu digo todo mundo, incluo os próprios irlandeses.

Galway tem tantas particularidades que é quase impossível resumir. Mas, guess what? Challenge accepted! Vou tentar fazer um apanhado de tudo aquilo que me chamou a atenção durante esses meses aqui.  E se algum dos amigos “brasileiros-galwegianos” que lerem o blog lembrarem de mais alguma coisa, peço pra contribuir, escrevendo nos comentários ou me mandando pelo facebook. O interessante é que esse trabalho de destacar essas peculiaridades fica mais difícil com o tempo, porque a gente se acostuma com o diferente, se adapta e sobrevive (um salve pro Charles Darwin). 

So... it’s time for...

GALWAY FACTS (atualizado em setembro/2012)

Casas:
- Não se assuste com as janelas à primeira vista. Elas abrem sim de uma maneira diferente, com três opções: maçaneta pra baixo = janela fechada; maçaneta no meio= puxe para a janela abrir completamente; maçaneta pra cima = puxe para a janela abrir parcialmente, com apenas uma fresta em cima. (Achei que um manual assim fez falta, pois evitaria muitos momentos embaraçosos de brigas explícitas com janelas alheias).
- (atualizado) Como bem lembrado pela Tati Perrone, não só as maçanetas, mas as fechaduras também tem uma artimanha especial para funcionar. A minha, por exemplo, era toda ao contrário. Então, não desista na primeira tentativa!
- Que atire a primeira pedra quem nunca colocou uma panela pra ferver no fogão e ele não esquentava ou começou um banho gelado. Tudo isso porque esqueceu de ligar o interruptor de luz, que habilita qualquer coisa por aqui.
- Existem diversos conjuntos habitacionais, com dezenas de casas iguais... umas fofuras! Mas isso deve ser um problema pra quem chega bêbado em casa e não lembra direito qual é a sua porta, chegando ao ponto de incomodar vizinhos (baseado em fatos reais).
- As campainhas são iluminadinhas J (a minha não... acho que tá quebrada)
- Meninas, o papel higiênico vai pelo vaso MESMO. Demorei tempos pra me acostumar, mas muitos lugares não tem cestinho de lixo. Alguns têm, mas é destinado para absorventes e tal. Portanto não se acanhem, é assim mesmo.
- Paredes feitas de papel. É disso que são feitas as casas aqui. Só pode. (Sim, deve ser algum material que eu não sei o nome, mas vocês entenderam a ideia....) Com essas paredes é possível saber os gostos musicais do teu vizinho sem nem precisar olhar pra cara dele, a rotina do teus flatmates – sem precisar olhar pra cara deles e saber se a máquina de lavar no andar de baixo já terminou de lavar tuas roupas, sem precisar ir até lá verificar.
- Em um geral, irish flatmates não são bem vistos pela comunidade estrangeira. Normalmente, eles não tão nem aí com a limpeza da casa, especialmente da cozinha e do banheiro, além de deixar tudo espalhado pelos cômodos . Ou seja: amigos neuróticos com limpeza, tenham cuidado na hora de escolher onde morar.

Dia-a-dia, compras e comportamento:
- Meninas, welcome to paradise! Penney’s e Dunnes Store são a salvação para aquelas que querem fazer a festa com roupas, acessórios e make up por menos de 15 euros. 
- Quem não é viciado em supermercado corre o perigo de ficar. Tesco 24horas, Dunnes, Lidl, Aldi e Supervalue são os maiores mercados e sempre tem ofertas. Sério, as “Special offers” do Tesco e os “reduce to clear” do Dunnes foram a minha salvação aqui, com produtos a menos de 50 centavos.
- (atualizado) Falando em Mercado, esqueci de mencionar duas grandes particularidades. Uma delas apontada pelo Julio Lopes, fala que o trolley (carrinho de compras) do Tesco está sempre preso em frente ao mercado e pra liberar é necessário uma moedinha de 1 euro. E sim, você pode ter esse eurico de volta na hora de devolver, não precisa ficar segurando tudo na mão com medo de desembolsar grana toda vez que precisar usar o carrinho. Isso deve existir em cidades aqui no Brasil, mas particularmente, nunca tinha visto por aqui. Outra coisa que me chamou a atenção, também no Tesco, é que eles tem serviço self-service pra pagar. Sim, os caixas rápidos é tu mesmo que passa os produtos no leitor e paga direto pra maquininha, sem nenhum controle de ninguém. Já imaginou se isso ia funcionar no Brasil?
- Outra dica amiga: leve sua própria sacolinha pro mercado. De pano, de plástico, não interessa, mas tenha contigo. Aqui eles cobram se você quiser levar alguma de plástico pra casa e não é aqueles plásticos vagabundos não. Eu só comprei uma, e olha.... me durou os seis meses tranquilo. (mão-de-vaca mode:on) Não sei porque diabos não se faz isso no Brasil. Só questão de costume. 
- Ter sol é um evento tão raro que faz até mesmo sair da toca os tipos mais esquisitos. Passe um dia de sol em Salthill pra entender o que eu to falando. O conceito de bizarro se renova.
- Sinnead, Eimear, Declan, Aeoifa, Ailbhe são nomes comuns, tipo João, Maria e José pra gente.
- Ninguém tem vergonha de sair com roupas ridículas ou cabelos estranhos. Misturar elementos de estações diferentes também pode ser fashion. Em Galway.
- Aqui chove praticamente todo dia, fato. Então é certo que você vai quebrar pelo menos um guarda-chuva. Ou dois. Até entender que a única opção sensata é ter uma capa de chuva. Porque o clima da Irlanda faz com que a chuva venha de todos os lados (suspeita-se que até mesmo do chão). Mas também traz boas surpresas, como arco-íris mais de uma vez por dia.
- A Shop Street sempre – SEMPRE – terá músicos tocando. Não interessa o tempo, a hora ou o tipo de música. Sempre haverá alguém tocando na rua, seja um bom ou mau músico. Muitos são esquisitíssimos, by the way.


Noite e Pubs
- Chuva e frio não são desculpa pra ficar em casa. E mais: sair pra beber não será exclusividade dos fins de semana.
- Não se assuste com as meninas à noite. Não, elas não garotas de programa (mesmo com suas saias curtíssissísssíssíííííssimas). Elas também não são zumbis (mesmo com a maquiagem carregada borrada e o andar trôpego e cambaleante num salto 15). E não, elas também não têm doença de pele (elas só não aceitam o fato de serem brancas e usam cremes bronzeadores laranjas de forma um pouco desproporcional, especialmente no rosto).
- Galway é a capital nacional das Hen Parties, as chamadas despedidas de solteira. As meninas vêm em bando pra cá, alugam um apartamento ou uma van e ficam a noite inteira andando de pub em pub fazendo fiasco e bebendo muito. Fantasias de Madonna, pênis de borracha ou de balão, avós e tias fazendo parte disso tudo estão incluídos no pacote. 
- Sim, bêbados são comuns e isso inclui mulheres também. Não é todo mundo que é assim... há exceções, claro! Mas pra quem quer "capotar o fusca", o lance é não comer nada e ficar bêbado logo. Essa é a graça por aqui.
- Meninas voltando às 3 da manhã pra casa, sozinhas e sem perigo algum. A gente vê por aqui.
- Bateu a fome na madrugada? Não se preocupe, o Supermacs tá sempre aberto pra você! Ah, achou muito caro? Não tem problema! No “chinês” você come por 3 euricos um delicioso arroz com frango ao curry (ao lado do The Kelly’s). Com fome e com menos grana ainda? No McDonalds dá pra descolar o famoso pão-carne-queijo por 1 euro.  (Dica amiga pros amigos homeless sem pudor: alguns irish chegam tão bêbados que pedem o lanche no Mc, mas só comem o hamburger e deixam as batatas intocadas dando sopa).
- Sempre haverá música boa num pub. Em alguns, os músicos não são contratados... estão só ali na mesa, bebendo uma pint, quando de repente alguém sugere tocar uma música e aí a coisa acontece.
- Você vai decorar uma série de músicas, porque todos os pubs tem um repertório que não muda desde os anos 80 – eu particularmente agradeço e adoro, podem me chamar de antiquada.
- Dentre as músicas que tu vai decorar: Whiskey in the Jar, Dirty Old Town, No Nay never e, claro, Galway Girl.
- Copos de pubs não são souvenirs. Quem se importa? Eu já tenho 3.

Galera... um beijão pra quem fica e boa sorte pra quem vai! Eu ainda sigo irlandeando por aí. Tenho mais um longo caminho pela frente antes de voltar pro Brasil (mochilão Europa, parte II - phyna e bem acompanhada). Se der, na volta, posto aqui algumas dicas sobre o sul da Irlanda.

See ya, então!